CHAPEUZINHO VERMELHO NÃO É MAIS AQUELA:OLHA A NOVA HISTÓRIA DELA



... e de nada adiantavam as recomendações da mãe para que a mocinha não se desviasse de seu caminho para a escola. Todos os dias ela entrava no shopping e, fingindo olhar as vitrinas, desfilava pelos corredores, sabendo como seu corpo de 15 anos chamava a atenção dos rapazes. Estes, entre si, comentavam com um sorriso de malícia sobre a menina que todos os dias vinha e passava naquele doce balanço a caminho de só Deus sabe aonde. E um quis saber também.
— Olá, menina do chapeuzinho vermelho! — disse certo dia um rapaz de fartos cabelos e grandes olhos, ambos pretos.
Sim, porque eu não disse, mas a mocinha adorava chapéus vermelhos, tendo-os em grande quantidade, nunca saindo de casa sem antes ajeitar na cabeça um que combinasse com o tipo de roupa que usasse. Naquele dia, usava um chapéu de caçador e um conjunto tipo safari, com calças curtas.
— Olá! — respondeu languidamente, passando a língua pelos lábios. Minha mãe disse para eu não falar com estranhos, por isso é melhor você dizer logo seu nome para ficarmos conhecidos. Todos me chamam assim mesmo: Chapeuzinho Vermelho — e dizendo isso, estendeu a mão para o rapaz.
— E o meu é Lobo, Eduardo Lobo. — falou ele, tirando de dentro da camisa a mão com que acariciava o próprio peito e apertando a mão da jovenzinha. Para onde você está indo, Chapeuzinho?
— Para a escola.
— E o que você vai fazer depois da escola?
— Depois da aula, que termina às 5 horas, vou à casa da Vovó fazer uma visita.
— Você se importa se eu for junto visitar sua vovó?
— Já que somos conhecidos, ficaria muito feliz.
— Onde mora sua vovó?
— Logo ali no fim dessa rua aí em frente, no número 1697.
— Ótimo, então! Encontro você às 5 horas na porta da casa dela. Tchau, viu?, Chapeuzinho!
— Tchau, Lobo!
E lá se foi Chapeuzinho, gingando o corpo provocadoramente.
Como a mocinha acabou se atrasando um pouco, Lobo chegou primeiro à casa da vovó de Chapeuzinho e, não a vendo, tocou a campainha. Uma velhinha de lenço vermelho na cabeça apareceu à janela.
— Pois não? — perguntou.
— Eu estou procurando a Chapeuzinho Vermelho. Ela já chegou?
— Ainda não. Você é amigo dela?
— Sou e fiquei de encontrá-la aqui.
— Se quiser, pode entrar e esperar.
— Obrigado!
Lobo entrou e apresentou-se.
— Fique à vontade, seu Lobo, e, por favor, não repare enquanto termino de varrer a sala.
O jovem, querendo ser simpático e manter uma conversa, começou a elogiar a neta da velhinha pensando que, assim, a agradaria. E falou de sua graça, de seu belo rosto, do cativante sorriso, do lindo corpo e... parou, pois percebeu que a fisionomia da velhinha estava-se fechando.
— Nossa! — exclamou ele. Como a senhora mudou! Que grandes orelhas estou vendo!
— É porque ouvi o que você disse!
— E que grandes olhos são esses?!
— É porque estou vendo que tipo de sujeito é você!
— E que grande vassoura é essa em suas mãos?!
— É para expulsá-lo daqui, seu assanhado!
Quando a Vovó ia bater com a vassoura em Lobo, entrou Chapeuzinho Vermelho.
— Vovó! O que é isso?! — gritou a menina.
— É esse sem-vergonha que veio atrás de você!
E Chapeuzinho e Lobo tiveram muito trabalho para convencer Vovó de que os dois queriam apenas se conhecer melhor.
Acalmados os ânimos, Vovó lembrou-se de um também Lobo que havia conhecido quando era mocinha, na floresta a caminho da casa da sua avó. Mas foi um caso muito tumultuado, que caiu na boca do povo e ficou famoso na região. Só que o povo mudou tudo: o coitado do Lobo, que mais parecia um cordeirinho de tão meigo que era, foi transformado num animal selvagem; o pai da menina, que viu o rapaz dando um beijo na filha, foi transformado num caçador que matou o Lobo que havia comido a filha, e até mesmo a sogra! O povo inventa cada uma! É como diz o ditado: quem conta um conto, aumenta um ponto. O povo não só aumentou como mudou tudo! Não é um absurdo?! Por fim, o caso não deu em nada, porque naquele tempo a repressão era muito grande e uma mocinha não podia escolher um namorado.
Relembrando o fato, Vovó resolveu se vingar de todos os que haviam tirado aquele Lobo de sua vida, deixando que este Lobo namorasse a sua neta, claro que às suas vistas, pois não chegava a ser tão liberal assim.
Da última vez que eu soube da Chapeuzinho e do Lobo, estavam noivos e procurando um aparta-mento para alugar, pois pretendiam se casar logo.


E aqui termino esta história
que não saiu nos jornais.
Quem souber outros detalhes,
se apresente e conte mais.

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